FELIZ ANO VELHO, de Marcelo Rubens Paiva
Marcelo Rubens Paiva pulou de cabeça em um lago que o deixou na condição de tetraplégico (palavra que ele mencionou odiar no livro) em 1979. Feliz Ano Velho parte desse momento até o período de 1 ano de seu acidente. Assuntos como suas rotinas do hospital, as visitas e o período que foi para casa continuar com o tratamento se mesclam com pensamentos políticos,lembranças de aventuras que o jovem Marcelo vivia como estudante da Unicamp e também seus amores vividos. Este último com toques de bastante erotismo envolvido. É um livro de memórias no período de transição de um rapaz ativo para sua nova descoberta de como se adaptar a partir de então.
Eu li Feliz Ano Velho pela primeira vez em 2003, aos 13 anos. Foi um livro que me marcou profundamente, por anos sendo um dos favoritos, principalmente por ser a primeira coisa adulta que li na vida. Hoje eu estou com 27 e acho difícil ter algo favorito que dure mais que alguns meses, porém essa releitura não foi decepcionante como são outras que já fiz (por isso que evito reler livros, mas estou revendo esse conceito). Na verdade, foi como visitar o melhor amigo que você não vê há muito tempo, se permitir ser nostálgico, porém perceber que a amizade e o apreço não serão mais intensos como foram, mas ainda assim o abraço será gostoso e será bom vê-lo de vez em quando.
A Mariana adolescente tinha, em seu modo escondido, achado um máximo algumas obscenidades nas histórias e no linguajar que o Marcelo usava. Já a Mariana adulta não acha lá tão obsceno. Alguns palavrões ela fala como se fosse um bom dia. Porém essa pessoa crescida sente que não viveu ou não sentiu nem um décimo que o aventureiro rapaz do livro aproveitou com intensidade. A Mariana de agora também se sente agradecida de uma forma. Onde estudei pouco se falava sobre a história do Brasil do século XX, portanto, o termo Ditadura Militar entrou em meu conhecimento pelo relato do Marcelo Rubens Paiva sobre o sumiço que deram em seu pai, Rubens Paiva, e até hoje não se sabe o paradeiro do corpo. Não fosse isso e outras coisas, talvez a Mariana de 13 anos teria crescido acreditando que seria legal colocar camisa do Brasil e pedir intervenção militar em uns protestos que tiveram por aí, né? Então foi bom.
Não pesquisei o que Marcelo Rubens Paiva fez ou faz depois desse livro, exceto uma vez que o vi no Altas Horas anos atrás. Tudo bem, sei que ele publicou outros tantos livros, e também sei que tem coluna em um jornal, porém não me sinto a vontade de me aproximar tanto de alguém que fez uma obra que gostei. O encanto se perde. Já vi de perto em um evento um autor de livros que eu gostava muito e na verdade tive um desapontamento pós encanto e tirei a pessoa daquele pedestalzinho interno. Minha mãe não gosta dele. Não gostou do livro quando leu e não gosta do que ele diz em entrevista, hehe. Por isso é bom deixar Feliz Ano Velho e outros livros que gosto sendo eles mesmos na minha cabeça. Os autores, deixo aqui dentro, sendo personagens da minha cabeça também. Mesmo assim espero que Marcelo Rubens Paiva esteja bem, de qualquer forma.
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