CASOS DE FAMÍLIA, DE ILANA CASOY
Casos de Família traz para o leitor dois crimes bárbaros. Crimes reais passados em nosso país e muito conhecidos por todos nós, pois foram e são amplamente divulgados até os dias de hoje.
São dois livros em um, uma reedição de duas grandes obras da autora: O Quinto Mandamento, que narra os bastidores do crime que tirou brutalmente as vidas do casal von Richthofen, mortos enquanto dormiam, uma atrocidade que chocou o país inteiro e A Prova é a Testemunha, que relata o homicídio desumano contra a pequena Isabella Nardoni de apenas 5 anos, estrangulada e defenestrada do 6º andar de um prédio pelas mãos de seu pai e madrasta. Além disso, um extenso material extra foi incluído, como a transcrição do julgamento de Suzane von Richthofen e dos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos. Temos também ao final de cada livro os cadernos de anotações da própria autora digitalizados, com todos os seus registros durante as investigações. A edição da DarkSide Books está esplendorosa, gigante e com um design admirável, com bordas arredondadas e com duas fitinhas marca-páginas nas cores preto e vermelho, lembrando muito um caderno de anotações.
CASO VON RICHTHOFEN
Em O Quinto Mandamento, a autora participou de perto das investigações e da reprodução simulada dos fatos, podendo descrever nos mínimos detalhes para o leitor todos os passos dos assassinos e seus depoimentos, o cenário e as emoções vividas por todos os envolvidos. Suzane von Richthofen, manda seu namorado e seu “cunhado” assassinarem seus próprios pais, Manfred e Marísia von Richthofen enquanto dormiam. Suzane tira o irmão Andreas de casa, levando-o para uma Lan House, e volta para casa com Daniel e Cristian Cravinhos, munidos de 2 armas fabricadas pelo primeiro, uma espécie de bastão feito com ferro e madeira. Ambos entram na casa, já com os sistemas de segurança desligados e ao sinal de Suzane, sobem para o quarto do casal e os atingem com os bastões violentamente. Uma toalha molhada é colocada sobre os rostos das vítimas e um saco plástico encobre a cabeça de Marísia na tentativa de abafarem o som agonizante que sai de sua boca.
Os três bagunçam alguns cômodos da casa, como o quarto e a biblioteca, na tentativa de fazer parecer um assalto. Não sendo muito convincentes e demonstrando total falta de emoção durante as investigações, a perícia acaba descobrindo toda a armação através de Cristian Cravinhos, que havia comprado uma moto com o dinheiro roubado do casal. Ao ser pressionado, acaba confessando e contando toda a história.
"Para além da crueldade dos assassinos, nos remete ao tipo de sociedade que estamos construindo. Se honrar o pai e a mãe é um dos mandamentos bíblicos, respeita-los é algo que está impresso na memória coletiva da humanidade em diferentes épocas e latitudes."
CASO NARDONI
A Prova é a Testemunha traz o caso Isabella Nardoni, uma criança, que foi agredida na testa pela madrasta Anna Carolina Jatobá dentro do carro na garagem do condomínio e levada para o apartamento carregada pelo pai Alexandre Nardoni. Na sala, foi jogada no chão e depois defenestrada pela janela do quarto dos irmãos, pela tela de proteção cortada por seu próprio pai.
Aqui, assim como no caso von Richthofen, houve tentativa de manipular a cena do crime. Alexandre Nardoni desceu o prédio para correr até onde a filha estava e disse aos outros moradores que havia um ladrão no prédio e que ele havia arremessado a criança lá de cima. A polícia foi chamada por várias pessoas, fazendo com que 30 viaturas chegassem ao local, além do corpo de bombeiros e ambulância. Nenhuma delas foi chamada por Alexandre ou Jatobá.
Isabella ainda encontrava-se viva após a queda, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no local. A perícia ouviu as testemunhas e encontrou vários furos nos depoimentos, prendendo assim o pai e madrasta da vítima como principais suspeitos do crime. Outras provas futuras, como manchas de sangue dentro do carro e do apartamento do casal e ferimentos causados por outros meios, que não foram devido a queda, condenaram ambos à prisão. Ilana Casoy acompanhou todos os dias do julgamento de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, os depoimentos das testemunhas, da mãe da vítima e observou as reações de todos os presentes, inclusive a imprensa. Alexandre Nardoni o tempo todo não demonstrando qualquer emoção para com a morte da filha.
“Tragédias acontecem, às vezes de forma tão rápida que só pensamos nas consequências quando elas já estão diante de nós. Temos que enfrentar os resultados das escolhas que fazemos. Não há caminho de volta. Aguardando o veredito, só o que vejo são vidas destruídas e destinos pendurados no varal.”
Ilana Casoy é especialista no estudo de perfis psicológicos de criminosos e serial killers, trazendo sempre materiais inéditos sobre os maiores casos de crimes cometidos no país sob uma visão completamente nova. As análises não tem como objetivo defender as vítimas ou os criminosos, mas observar de fora o comportamento humano diante de tais situações. Temos a visão não apenas de quem cometeu o crime e quem o sofreu, mas também de todos os espectadores, familiares, investigadores, da imprensa, médicos legistas e da justiça. Um material íntegro e inigualável, que nos transporta para dentro dos casos, podendo nos causar uma afeição indescritível pelo que se passou. Me senti como parte dos peritos que investigaram cada ocorrência.
Quando se trata de uma história real, já vem com um peso extra, diferente das histórias de ficção. Houve momentos em que estava tão envolvido no livro, que tive que parar para respirar e tomar água, pois o clima estava muito carregado. Em A Prova é a Testemunha, há descrições detalhadas do médico legista de Isabella Nardoni e é bem triste e envolvente o relato de toda a agressão sofrida pela menina, chocando-me de uma tal forma que não consigo descrever. Todo esse envolvimento te faz refletir sobre o quanto a mente humana é capaz de bolar ações cruéis. Muitas pessoas pensam em muitas coisas ruins que gostariam de fazer, mas ainda bem que poucas são capazes de colocar isso em prática.
Este é um livro que quando o recebi, pensei que levaria o mês inteiro ou até um pouco mais para ler, mas me envolvi com a escrita de Ilana Casoy de uma tal forma, que devorei o livro em apenas sete dias. Por ter participado de casos reais com polícia, Ministério Público, advogados de defesa e a perícia, a autora tem um currículo grandioso para trabalhar com a mente humana. Este é um livro que eu recomendo sem pensar duas vezes. Se você gosta de investigação e tem interesse em saber mais sobre os casos e ainda ser um espectador mais presente, como se estivesse trabalhando junto aos peritos, este é o livro certo para você.
“Este livro foi cedido ao TRIPLO BOOKS de cortesia pela editora. Independente da parceria, todas as reviews tem como principal característica, a franqueza com as opiniões postadas”
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