ULTRA CARNEM: VISCERAL E PROFANO
O nome Vladimir Lester pode soar um tanto vampírico, mas apesar de ser uma ideia equivocada, fica a sensação de que há mistério quando se pronuncia em voz alta. A antiga lenda do menino cigano, abrigado por Dom Giordano no orfanato da igreja, que pintava quadros como ninguém e possuía uma tinta rubra da cor do sangue, ainda era conhecida na cidade de Três Rios. Desde que foi deixado lá por sua tribo, grandes acontecimentos ocorreram até o mais nebuloso desfecho.
“(...) Antes de notar Lester ou procurar por Ágata, ela posou os olhos naquela estátua abominável sobre a cama. Ah, sim. E a estátua também a viu.”
O legado de Vladimir, suas obras, se perpetuou. Sua tinta virou a obsessão de Nôa, também pintor, que alimenta de desesperadamente a fome e a frustração de ser um artista fracassado. Nôa seguirá todas as pistas possíveis para encontrar o que procura.
Marcos é um técnico de informática quarentão que alimenta pensamentos sujos com qualquer pessoa, de preferência as novinhas, desde que não seja sua esposa obesa de camisola velha Odeta. Vive uma vida medíocre onde a única coisa que parece gostar é o seu filho Randy, um pré-adolescente que tem a mentalidade de uma criança de três anos. E tudo muda quando um desejo dele é realizado.
Lucrécia trabalha como garçonete no turno da madrugada em um trailer bem chinfrim. Sua alma forte e repleta de ira e esperteza, junto com sua aversão a pedir clemência aos céus, desperta o interesse do diabo para uma missão.
CONEXÕES
Parece que estou falando de um livro de contos quando eu separo as histórias por personagens assim. Porém foi a melhor forma que achei para contar a você sem estragar sua experiência de leitura. O que acontece na parte 1 do livro relacionado à Vladimir Lester e de suas obras é de total influência para os outros personagens, mesmo que por alguns momentos não pareça. Acredite.
O VISCERAL E O PROFANO
Ultra Carnem tem uma narrativa envolvente e bem maliciosa. É um livro pesado, algumas vezes indigesto e me deixou culpada por gostar da leitura algo tão desafiador. Mesmo que minhas crenças pessoais não tenham relação com nenhuma igreja, o capeta é o capeta. Se tem uma coisa que é comum a quase todas as religiões é que mexer com o inferno não é nada bom em nenhuma delas.
O livro também te lembra do que você tem de mal em si. Ou pelo menos uma pequena identificação com alguns aspectos daqueles personagens, já que algumas coisas que talvez sejam inerentes ao ser humano. Em contrapartida me senti enojada, bem mais do que os trechos de esquartejamento feitos por um personagem conhecido como “ O Açougueiro”, ou dos momentos de Lester e até mesmo do sangue. As vezes que senti uma real repulsa foram na parte das história do Marcos e das coisas que ele pensava. Acho que você terá nojo dele também.
“(...) Marcos não conseguia ver mais as imagens. Mas a verdade é que tampouco conseguia parar de olhar. Porque gostava. A moralidade ordenava que desligasse depressa aquela obscenidade, que parasse de se comportar ainda pior que o assassino...”
O INFERNO
Se teve uma coisa que eu achei interessante foi o inferno
(crendeuspai) descrito em Ultra Carnem. O autor criou algo diferente do imaginário coletivo e também forneceu uma noção de hierarquia das almas capturadas de uma forma muito diferente
e fora da caixa.
CONCLUINDO
Ultra Carnem é uma excelente leitura se você estiver com estômago bom. Preferi ler de dia pra não ter medo na hora de dormir? Sim. Mas para quem é acostumado com horror, é um prato cheio.
E se você já leu e quer falar com spoiler, escreva [SPOILER] antes de comentár e vamos conversar!
FOTO BÔNUS
O Pingo invadiu a sessão e não resisti: precisei postar.
“Este livro foi cedido ao TRIPLO BOOKS de cortesia pela editora. Independente da parceria, todas as reviews tem como principal característica, a franqueza com as opiniões postadas”
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