OS PÁSSAROS, de Frank Baker
Um velho narra finalmente para sua filha, Anna, os tempos de 1930, que era conhecido para ela apenas como os dias "antes da chegada dos pássaros", quando ele foi um caixeiro de seguros marítimos. Durante dias muito quentes, ele subiu um certo dia em um telhado de um prédio para fugir um pouco de seu cansativo trabalho. Ele vislumbrou uma imensa nuvem negra que escureceu o céu...
A nuvem se tratava na verdade de um bando de pequenos pássaros, milhares, que pousaram pela área da praça do Royal Exchange, na City. Várias pessoas pararam para apreciar a cena e um alvoroço foi iniciado, causando até congestionamento no trânsito local, com os cidadãos se espremendo para ter um vislumbre das criaturas. Dentre eles, uma senhora jogou um punhado de sementes e foi completamente ignorada. No entanto, um dos pássaros se ergueu do bando e perseguiu a senhora, ignorando o restante dos habitantes. Enquanto ela fugia em completo terror, descendo para uma cabine telefônica que ficava no subterrâneo da cidade, fechou-se sem querer junto com a ave. Quando as pessoas chegaram para ver o que aconteceu, inclusive o narrador, a mulher estava desmaiada, depois de ser atacada pelo pássaro. Apesar de ter sido levada ao hospital, a senhora não resistiu aos graves ferimentos sofridos e morreu. O pássaro desapareceu.
O calor na cidade se tornou incomum e foi se arrastando durante os dias, causando seca. Seus moradores viviam dias complicados, com as janelas fechadas, para impedir uma invasão das aves. Os pássaros permaneceram na cidade exalando mal cheiro, tomando atitudes ousadas, atacando desabrigados e escapando de serem capturados. Ninguém conseguia pegá-los e o desconforto de sua presença só aumentava entre os habitantes, que se perguntavam sobre o que as aves estariam querendo. Mesmo após o governo autorizar uma investida contra todos eles, usando batedores armados, todos foram massacrados e mortos, tendo seus rostos totalmente mutilados. As criaturas foram se desenvolvendo, passando a ter a medida de um corvo, com olhos frios e profundos. Até mesmo a Igreja havia marcado uma celebração, mas as pessoas não sabiam se era para se tratar da seca ou dos pássaros.
Mas os pássaros ficaram de fora do programa. Fugia da dignidade da religião oficial mencionar esses aborrecimentos insignificantes.
"Ó Senhor, enviai a chuva sobre a Terra." Sim, extremamente apropriado."Dá-nos a tua paz, ó Senhor." Perfeitamente adequado."Ó Senhor, livrai-nos dos pássaros." Não. Com certeza, não.
O que se segue após estes acontecimentos, são um passeio pela sociedade e a juventude do narrador, retratando a Londres pré-guerra de sua época, seus sonhos, suas descobertas, suas férias no País de Gales, fugindo finalmente do stress do trabalho e do calor, quando, ao retornar, conhece uma sábia mulher russa, por quem se apaixona. As pragas do céu vão crescendo em número desenfreadamente, escolhendo cidadãos para perseguir individualmente, levando-as à loucura, causando terror, muitas cometendo suicídio, em uma mistura de holocausto e apocalipse.
"Ah, a arrogância daquele momento quando percebi que os homens poderiam ser deuses se parassem de se lembrar de que outrora haviam sidos macacos! Deuses, pois possuíam essa qualidade notável de consciência da Vida."
Os Pássaros, muito além de um livro de suspense e terror, é uma crítica à vida moderna, uma civilização alienada, afastando-se de sua real natureza. É uma viagem para dentro de si mesmo, para enfrentarmos nossos medos e sombras, esta escuridão que cada indivíduo carrega em seu coração. O narrador passa detalhes do nacionalismo agressivo dos londrinos, e a ausência de confiança. Os únicos detalhes que ele não quer deixar muito concreto, são o verdadeiro objetivo dos pássaros.
Confesso que esperava outro tipo de romance ao ler Os Pássaros e isso foi completamente ruim para minha alta expectativa. Mas com o passar da leitura, fui entendendo onde Frank Baker queria chegar, retratando a própria sociedade de sua época, descrevendo um romance literário histórico, fantástico e alarmante que eu super recomendo. A edição Limited da DarkSide Books novamente dispensa comentários, uma edição de luxo, linda, decorativa, com papel de excelente qualidade, que já vale a pena ter na prateleira só pela beleza. Eu fui fisgado primeiramente pela capa e logo depois, pela história!
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Este livro foi cedido ao TRIPLO BOOKS de cortesia pela editora. Independente da parceria, todas as reviews tem como principal característica, a franqueza com as opiniões postadas”
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