O DEMONOLOGISTA, DE ANDREW PYPER

John Milton é um dos maiores escritores ingleses que viveu no século XVII e sua grande obra é O Paraíso Perdido, um poema que conta a história da expulsão de Adão e Eva do paraíso. 

David Ullman é o personagem central de O Demonologista e também é professor de literatura e grande um estudioso da obra de John Milton, bem como a figura de satã. Seu conhecimento o leva a aceitar um convite de uma missão em Veneza cujo as razões não foram explicadas.

 Sendo um personagem depressivo que está em processo de separação por uma traição de sua esposa, a única coisa que o faz se sentir vivo é sua filha, a Tess. Para manter os laços mais próximos, ele carrega Tess para a viagem imaginando que seria algo muito bom para os dois. Entretanto, David presencia algo que pode ser uma manifestação demoníaca e sua filha se vai nesse processo. Quando digo “se vai”, significa que houve um suposto suicídio de Tess na frente de algumas pessoas. Seu pai se recusa completamente da possibilidade quase que inegável pelas testemunhas e acredita que sua filha estava possuída.

Mas algo precisa ser considerado; David Ullman até então era completamente ateu. Então por que passa a acreditar em possessão? Por que sua busca por ela ocorre nos Estados Unidos se ela morreu em Veneza?

Muito mais que uma história sobre homens e demônios, a jornada de David em O Demonologista vai falar sobre fé. Mesmo que por linhas tortas. Como que o amor de um homem por sua filha pode reverter seu estado de ateísmo para acreditar em algo? E curiosamente, antes mesmo de acreditar em um ser divino, passa a acreditar na existência do mal como manifestação sobrenatural.

Andrew Pyper colocou a besta como algo que também lê Paraíso Perdido. Através da obra David Ullman enxerga as pistas do paradeiro de Tess. E, claro, como leitores ficamos com a pulga na orelha de se realmente é um sinal ou algo da cabeça do personagem.

Outra personagem fundamental em mencionar é a Dra. O’Brien, uma psicóloga que está com câncer terminal e melhor amiga de David. Preocupada com o estado mental de seu amigo, opta por viajar com ele ao invés de fazer seu tratamento. De início O’Brien acredita piamente que ele enlouquecera, porém durante a leitura percebemos que esse ponto de vista vai modificando.

O Demonologista foi uma leitura que conseguiu me deixar presa e instigada. O estilo de escrita do Andrew Pyper também é algo muito agradável. Soa poético, suave deixa o leitor completamente ambientado. Como tudo é bastante subjetivo, eu fiquei pensando por bastante tempo se não era da cabeça do nosso protagonista. Porém, cabe ao leitor de tirar suas próprias conclusões.