NOSFERATU, DE JOE HILL
Vic tem uma capacidade de atravessar para outros locais ao andar em sua bicicleta. Quando isso acontece, a “ponte do atalho” aparece em sua frente para fazer a travessia. Tal fenômeno ocorre quando ela procura alguma coisa que está perdida. Em outro paralelo conhecemos Charlie Talent Manx, um ser excêntrico, que não dá para identificar se é muito velho ou muito novo.
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Ele atravessa para outros lugares assim como Vic, porém usando um Rolls Royce. A diferença é que esse transporte permite que ele saia do plano real, para um etéreo (ou imaginário) chamado Terra do Natal. Como o próprio nome sugere, lá sempre está um clima feliz e natalino. Manx acredita que esse lugar é o mais mágico de todos porque não há leis, regras ou qualquer outra coisa que interfira na liberdade das pessoas. Por esse motivo ele leva crianças para lá - o que fez com que no plano real ele fosse preso por pedofilia - com o argumento básico de que ele tira as crianças de “pais horríveis” que criam mal os seus filhos. Mas quando você está num lugar que nenhuma lei é imposta, pode se presumir que qualquer coisa pode acontecer, não é?
Ainda há um terceiro personagem completamente insano que é devoto ao Charlie e seu maior desejo é ir para a Terra do Natal. Enquanto Charlie sequestra as crianças, fica a serviço de Bing, cuidar das mães malvadas. “CUIDAR”. Da forma mais odiosa possível.
A história de Vic é contada a partir do momento que ela ganha a bicicleta quando criança até sua idade adulta, quando a personagem já tem um filho de 12 anos. É interessante perceber que Vic não é uma personagem feminina padrão e uma mãe convencional, também desde cedo se percebe que ela não é nenhum exemplo a ser seguido. Quando ainda jovem, Vic briga com sua mãe e sai de bicicleta com a convicção de que quer procurar encrenca, no caminho a ponte da travessia a leva até Charlie Manx. A prisão e o coma de Charlie é o resultado desse encontro e o desejo de vingança fica guardado dentro dele por anos até o seu despertar.
Nosferatu foi o nome que deram ao livro aqui no Brasil por conta da tradução de uma piada da versão original. O Rolls Royce de Charlie Manx tem como placa os escritos NOS4A2, que ao ler em inglês o som remete ao clã de vampiros de mesmo nome. O livro mexe muito com o imaginário sem ser fantástico demais. É um horror psicológico, de perseguição, de fantasia também e mesmo assim muito terreno. Nosferatu foi o primeiro livro do gênero de horror que eu li e foi uma história que apesar de grande e com algumas partes e alguns paralelos, me prendeu do início ao fim.
Joe Hill trabalhou com a insanidade de uma forma muito bem feita. Charlie e Bing, em seus atos mais bizarros, acreditavam com todas as forças de que retirar as crianças de suas casas (torturar e estuprar as mães também) era uma forma de salvá-las completamente. E quando elas chegavam lá, o lugar fazia com que elas perdessem completamente a noção do certo e errado, como se o senso de ética desaparecesse.
Dentro de seus devidos seguimentos, achei a escrita de Joe Hill muito parecida com a de Neil Gaiman quando se fala de obscuridade e a capacidade de imaginar. Por isso fica a dica ;)
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