HELLRAISER, de Clive Barker
Frank é um homem que buscava prazeres extremos. Para chegar ao ápice desse desejo, ele consegue a Caixa de Lemarchand, uma espécie de Cubo Mágico, um quebra cabeça, que conforme haviam lhe contado, era capaz de dar o que ele tanto buscava, caso conseguisse desmontá-la seguindo o seu ritual corretamente.
O que Frank descobre, logo após resolver o enigma da Caixa, é que os Cenobitas — seres invocados após a abertura do artefato — tem um estilo singular de interpretar o sentido de prazer. Quatro dos cinco Cenobitas que deveriam aparecer em seu quarto surgem, com seus corpos cinzentos repleto de cortes e feridas profundas, todas propositais, com parte de suas roupas costuradas aos próprios corpos, ganchos e pregos enfiados em sua carne. Diante desta visão aterradora, Frank, excitado pelo momento, diz aos recém-despertados o motivo de tê-los chamado até ali, pagando assim, um preço alto por ter se arriscado a pensar que um harém de virgens sedentas seriam entregues a ele para satisfazer seu apetite sexual. Seu corpo é completamente mutilado e torturado da forma mais cruel possível e o que quer que ainda tenha sobrado dele, é levado para um inferno de dores sem fim.
Posteriormente, Rory (irmão de Frank) e sua esposa Julia se mudam para a velha casa onde Frank morava, abandonada há meses e precisando de uma reforma. Julia é uma personagem que age de forma fria com o marido, detalhe que descobrimos ser em parte pelo desconforto de estar indo morar naquela casa que pertenceu ao irmão dele. Kirsty, uma amiga do casal também é apresentada neste momento, onde podemos concluir que ela tem uma queda por Rory, o que torna a repulsa de Julia por ela bem evidente.
No dia da mudança, enquanto subia as escadas para o andar de cima para escolher qual seria o quarto principal do casal, Julia descobre o “quarto úmido”, como viriam a apelidar o cômodo da casa onde dormia Frank e onde ele desapareceu depois da chegada dos demoníacos Cenobitas. O quarto estava com uma aparência tenebrosa, com as persianas fechadas e um mal cheiro insuportável, além do calor e umidade no ar e nas paredes. Julia sente uma presença no quarto e percebe que não está sozinha e o que quer que esteja naquele quarto, disse apenas uma palavra: — Julia.
“O espetáculo da parede se desdobrando tinha cessado totalmente e ela viu uma cintilação entre os tijolos, irregular o bastante para ser uma sombra, mas demasiado substancial.Ela viu que era humano, ou que havia sido. Mas o corpo tinha sido feito em pedaços e recosturado com a maior parte das peças faltando ou retorcidas e enegrecidas, como se estivessem em um forno. Havia um olho encarando-a e a progressão de uma espinha, mas a vértebra estava despida de músculos, com alguns poucos fragmentos reconhecíveis da anatomia. E era isso. Que algo assim estivesse vivo era um fato que empobrecia a razão — a pouca carne que possuía estava irremediavelmente corrupta. Contudo, ali estava, viva. O olho, apesar da podridão em que jazia enraizado, examinou cada centímetro dela, de cima a baixo.”
Depois desse encontro, Julia descobre ter tido contato com o que sobrou de Frank, o que faz com que ela passe a tomar certas atitudes estranhas e a evitar Rory, que percebendo o afastamento, pede que Kirsty converse com ela para tentar descobrir o que está acontecendo. O que ambos irão descobrir, é capaz de despertar o horror mas profundo que um ser humano poderia sentir.
Para quem já conhece o famoso filme de horror de 1987 baseado nesta obra, não é novidade o que poderá esperar do enredo deste livro, porém, há mudanças significativas entre os dois. Uma das principais é o fato de, no livro, Kirsty ser amiga de Rory e Julia e não filha de um antigo casamento dele, que no filme se chama Larry Cotton.
O famoso demônio Pinhead, que é o líder dos cenobitas no filme, não é descrito no livro. Clive Barker expandiu a mitologia dentro da versão cinematográfica, inclusive o único detalhe sobre o líder deles na versão impressa é que se trata de um ser chamado “O Engenheiro”. Este mesmo engenheiro, no filme, é uma criatura diferente, que protege o labirinto para a dimensão deles, não aparentando ser um Cenobita.
Outro detalhe que podemos encontrar na literatura e que não é novidade para ninguém, é o caso de o leitor ter acesso aos pensamentos dos personagens, nos levando assim a compreender suas atitudes e decisões de forma mais clara. Por mais que possamos estar diante de um filme, podendo ver o ator expressando o horror vivido nas cenas, é incomparável a sensação que podemos sentir lendo a descrição das barbáries cometidas pelos Cenobitas e o espanto que Frank causa por ter uma forma tão incompleta de si, lutando para recuperar seu corpo. Clive Barker deixa tudo por nossa própria interpretação, o que torna a experiência muito mais legal e real. As cenas chocam bastante, são horríveis e fortes. Os detalhamentos das torturas são minuciosamente descritos, provando assim que Barker está lá em cima, no pódio, junto à outros grandes escritores do gênero, deixando sua marca na literatura do horror e criando seres que imperam com outros ícones que nos assombram.
O desenvolvimento dos personagens não é muito profundo devido ao caso de este livro ser considerado uma novela de apenas 150 páginas. Isso nem de longe estraga a experiência de leitura, apenas deixa aquele gostinho de quero mais. Se vocês procuram uma história de horror completamente genial e original, eis aqui uma das melhores pedidas. Recomendo demais a leitura e levanto a atenção para a qualidade impressionante da edição lançada pela DarkSide Books, que encantou até mesmo o próprio autor, que a considerou a melhor impressão de seu livro até o momento. Ainda tem dúvida de que deva comprá-lo? E corre porque está esgotando!
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