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O SILÊNCIO DO TÚMULO, de Arnaldur Indriðason

Arnaldur-Indridason-silencio-do-tumulo

Um esqueleto supostamente datado da época da Segunda Guerra Mundial, é encontrado na capital da Islândia, Reykjavík, soterrado pelo crescimento da cidade através dos anos. O inspetor Erlendur e sua equipe são designados para o caso, repleto de interrogações. Um grupo de arqueólogos monta uma enorme tenda envolta da área e trabalha na remoção dos ossos de forma demorada, com o uso de pincéis para não danificar nada.


Este acontecimento remonta a uma data muito distante, onde todos os possíveis envolvidos podem estar mortos ou muito velhos para haver qualquer tipo de condenação, mas Erlendur está disposto a escavar não apenas os ossos, mas também histórias complexas e trágicas. De quem pertence a ossada? Uma família que viveu no chalé no alto da colina, soldados dos quartéis aliados durante a guerra e uma história sobre uma jovem que se atirou no mar, estão entre alguns dos fatos da investigação.

Por outro lado, o inspetor tem de lidar com os próprios problemas pessoais, visto que sua filha Eva Lind entrou em coma devido ao uso de drogas. Ambos mantinham uma relação distante e de muitas discussões, tendo essa reaproximação colocado Erlendur frente a frente com seu próprio passado, seu divórcio e um caso traumático na infância envolvendo seu irmão. Tudo isso retorna de forma implacável.


Dizem que o tempo cura todas as feridas.” Disse o cirurgião ao sentir que Erlendur ia se descontrolar. “Isso vale tanto para o corpo quanto para o espírito.”“O tempo”, disse Erlendur, […] “O tempo não cura ferida nenhuma.


O Silêncio do Túmulo é um romance policial ímpar e original. Histórias que remetem ao passado sempre deixam nós leitores com uma curiosidade tremenda e nos prendem de uma tal forma, que é difícil até de explicar. Porém, sabemos que para isso, o autor tem que saber criar uma boa trama e aqui Arnaldur nos presenteia com um passeio pelas inóspitas paisagens da Islândia, por um tempo em que coisas macabras ocorreram próximas ao local de encontro dos ossos. O personagem Erlendur é um inspetor sério e que não costuma brincar em serviço, sendo direto e focado em seu trabalho. Sua relação com a filha e ex-mulher contribuem para boa parte de sua personalidade.



Paralelamente conhecemos durante a narrativa do livro, os dias de terror passados por uma mulher, que sofre violência doméstica nas mãos de um homem sádico e impiedoso, que não busca motivos para cometer suas agressões, tornando a vida dela e de seus filhos um tormento sem fim, sem que possam fazer nada para mudar isso.

Naquela noite foram as batatas. Ele não achou que elas estivessem bem cozidas. Elas também poderiam estar cozidas demais, cozidas até desmancharem, cruas, descascadas, mal descascadas, descascadas demais, inteiras, sem molho, com molho, fritas, assadas, em purê, cortadas finas demais, cortadas grossas demais, doces demais, não doces o suficiente…Ela não conseguia entendê-lo.

Viver com ódio todos os dias, sem nunca parar, não importa o que se faça, e nunca poder fazer nada para mudar, até você perder toda a vontade própria e esperar que a próxima surra não seja tão ruim quanto a anterior.

O sentimento de ódio que fui sentindo durante a leitura — por causa do homem que bate em sua esposa — foi muito grande, as agressões cometidas por ele nos tornam tão impotentes quanto ela, que podemos apenas desejar um desfecho feliz para a família. As buscas por explicações leva o inspetor e sua equipe a interrogar pessoas que já se encontram quase no fim da vida, muitas já nem lembram mais de muita coisa, mas nós conseguimos ligar um fato ao outro mesclando as duas narrativas do passado e presente, fazendo a associação que ambas têm em comum.

O Silêncio do Túmulo mantém à prova de que os escritores nórdicos são abençoados com o dom da escrita para criar romances policiais geniais e criativos, com clima pesado, forte e arrebatador. Com toda a certeza adquirirei mais livros da série, lançados aqui no Brasil pela Companhia das Letras, com capas muito bonitas e trabalho de revisão impecável. Esta edição foi-me indicada pelo Clube do Crime, perfil do Grupo voltado para fãs de livros de suspense, crime e mistério, logo após eu terminar minha leitura de A Garota Corvo e querer me manter dentro do mesmo universo. Acertaram em cheio na indicação. Recomendadíssimo!







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