TWIN PEAKS - ARQUIVOS E MEMÓRIAS
"Damn good coffee!"
Twin Peaks é uma série que infelizmente pouca gente conhece, das mais peculiares e incríveis das últimas décadas, repleta de personagens marcantes e carismáticos, que ganham a empatia do telespectador rapidamente. É também um daqueles programas que recebem dois tipos de reação de quem o a assiste: o amor ou o ódio. Não existe o meio termo. Logo ao estrear pela ABC, emissora que lançou o programa na época, os próprios donos da emissora não tinham qualquer confiança de que pudesse se tornar uma série que as pessoas pudessem se interessar. Houve elogio para o excelente trabalho de divulgação feito pela equipe de marketing, mas havia a descrença de que os telespectadores não passariam mais do que 30 minutos assistindo ao episódio piloto de mais de 2 horas de Twin Peaks.
A audiência naquele dia foi arrebatadora, impressionando a todos com a história da jovem Laura Palmer, encontrada por um pescador, morta e embrulhada em saco plástico. O agente Dale Cooper do FBI, aparece para juntar-se ao xerife da cidade e tentar desvendar o mistério, descobrindo ligação entre este assassinato e um outro caso no qual havia trabalhado. Lançando assim uma curiosidade sem precedentes sobre os telespectadores, que se perguntavam: "Quem matou Laura Palmer?" Esta frase tornou-se um dos assuntos mais comentados da época entre amigos, colegas de trabalho e vizinhos. A cada novo episódio, as pessoas não viam a hora de poder criar suas especulações no dia seguinte, aumentando consideravelmente a popularidade da série.
Quem era Laura Palmer? Uma garota popular na escola, rainha do baile, supostamente envolvida com coisas erradas em segredo. Ao longo da série, pequenas cenas do passado da personagem vai sendo entregue aos telespectadores, que vai descobrindo que todos em Twin Peaks tem potencial para ser o assassino, todos com peculiaridades distintas.
"Cavalheiros, quando dois eventos independentes ocorrem simultaneamente com o mesmo objeto de investigação, nós devemos sempre prestar atenção!"
Dale Cooper é um agente que se apega as pequenas coisas boas da vida. Ele se sente maravilhado apenas por tomar uma pequena xícara de café ou comer um pedaço de torta ou um Donut, mostrando-se completamente humilde e também bastante intuitivo. Cooper confia completamente em seus instintos e sonhos. Um personagem carismático, grandioso e de fácil apego, sempre convencendo o xerife e os delegados a seguirem os seus pressentimentos, por mais loucos que sejam.
"Cada dia, uma vez por dia, dê um presente a si mesmo.
Não o planeje, não espere por ele, apenas deixe acontecer."
Twin Peaks não foi criada para ter muita lógica, apesar de você ligar os pontos e ter a compreensão de toda a história. Os criadores Mark Frost e David Lynch tinham toda a ideia da primeira temporada já preparada, mas durante as gravações do programa muitas cenas foram mudadas de acordo com cada ator e situação. Em Twin Peaks - Arquivos e Memórias, temos acesso à transcrição de uma série de entrevistas concedida ao autor do livro, Brad Dukes, que organizou por ordem cronológica e temática, dando aos fãs da série, uma bagagem extra de conhecimento sobre todo o programa, sentimentos dos atores e seus bastidores. Aqui descobrimos, por exemplo, que vários momentos de Twin Peaks são completamente excêntricos propositalmente, pois David Lynch, o diretor principal da série, não se importa muito em ser racional com a história, sempre dando bastante liberdade criativa para todos os envolvidos no programa. São várias as situações que aconteceram por coincidência durante as gravações e acabaram indo para a edição final do episódio, como por exemplo o vilão Bob, que era um rapaz que trabalhava no set e por acidente apareceu no reflexo de um espelho durante uma das cenas, situação que David Lynch acabou achando super interessante, anexando-o como um personagem na série logo em seguida.
Vários atores tiveram liberdade para desenvolver as personalidades de seus personagens, chegando ao ponto de negarem certos caminhos que tomariam na trama, como o agente Dale Cooper, que deveria viver um romance com Audrey Horne, uma jovem de 18 anos, interpretada pela atriz Sherilyn Fenn, mas o ator Kyle MacLachlan, que interpreta o agente achou que Cooper não tomaria este tipo de conduta com uma personagem tão jovem. E assim foi mantido a vontade de Kyle.
Um dos ápices da série se passa no Black Lodge, um local extradimensional cercado por cortinas vermelhas e piso estampado de chevron, visto pela primeira vez no final do episódio três pelo agente Cooper durante um sonho. Nesta "sala", os personagens existentes não conversam de forma convencional, mostrando umas pausas durante as palavras e também apresentando movimentos estranhos. No livro é explicado que, genialmente, Lynch gravou estas cenas com os atores falando as palavras ao contrário e atuando também de forma invertida. Logo depois o filme foi colocado na forma "correta", dando um ar totalmente macabro e perturbador para os presentes na Black Lodge. Tudo isso exigiu uma experiência surreal aos atores envolvidos, que completaram a tarefa com um êxito espetacular!
Depois de uma segunda temporada desastrosa por causa da ausência de seus principais criadores, envolvidos em outros projetos, e principalmente pela revelação apressada do assassino de Laura Palmer devido à pressão imposta pela emissora, o programa foi cancelado para a tristeza de muitos. Eis que em 2017, seremos presenteados com a volta de Twin Peaks para a sua 3ª temporada, com quase todo o elenco original, vivendo os mesmos personagens, mais de 25 anos depois, concretizando uma das profecias proclamadas na própria série, de dentro do Black Lodge de que 2 personagens voltariam a se encontrar depois de 25 anos. Ou como disse o anão (pequeno Mike): "That gum you like is going to come back in style.” A estréia está marcada para 2 de maio.
Uma coisa que jamais cansarei de pontuar é o aprimoramento da editora DarkSide Books a cada livro lançado. Twin Peaks - Arquivos e Memórias já desperta o interesse só pela capa. Internamente foi impresso em papel fotográfico as cortinas do Black Lodge, além de vir de brinde um marca-página em formato de torta de cereja, com uma receita impressa no verso. Além de tudo, o kit que veio para mim pela parceria com a editora foi um dos mais lindos e recheados, contendo um mini-cofre em formato de televisão antiga, com uma foto da Laura Palmer na tela, recheada internamente com balas de cereja e café. Um pôster limitado a 51 unidades produzido pela Quadrin Posters e uma bolsa irada da DarkSide na cor preta com estampa chevron embaixo e a logo da caveirinha no centro.
Para aqueles que ainda não conhecem a série Twin Peaks, não percam mais tempo, pois não sabem o que estão perdendo. Aproveitem depois para adquirir o livro Arquivos e Memórias, pois ele te leva muito além do que o programa é, fazendo até mesmo com que você ganhe mais empatia por ele e por todos os envolvidos no projeto.
+ FOTOS //
“Este livro foi cedido ao TRIPLO BOOKS de cortesia pela editora. Independente da parceria, todas as reviews tem como principal característica, a franqueza com as opiniões postadas.”
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