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DEUSES AMERICANOS, DE NEIL GAIMAN


Deuses Americanos conta a história de uma época onde as antigas crenças locais foram esquecidas e todos os deuses que foram trazidos ao continente norte americano por imigrantes, exploradores e povos nativos, vivem hoje vidas humanas e normais, pois sem a fé das pessoas, eles não têm como existirem. Novos deuses são cultuados agora, num país onde as pessoas só querem saber de tecnologia, celulares, internet, celebridades e televisões. Entidades passaram a retratar estes novos entretenimentos dos americanos, desencadeando uma preparação para uma guerra, pois os antigos mitos querem de volta a fé das pessoas e os novos deuses querem viver soberanos no mundo atual.
O protagonista do livro é Shadow, um daqueles caras grandalhões e com cara de poucos amigos, um detento que está prestes a ser solto, após cumprir o seu período penal de três anos, passando o tempo lendo livros e com truques de moedas. Ele está animado com a soltura e por poder reencontrar sua esposa e trabalhar em um emprego que já está garantido lá fora por um de seus amigos. Alguns dias antes de ser liberado, Shadow é chamado à sala do diretor do presídio, que o surpreende dizendo que ele poderá ir para casa mais cedo, com a triste notícia de que sua esposa morreu num acidente automobilístico junto com o amigo.

Tinha só um cara na Bíblia inteira pra quem Jesus prometeu pessoalmente um lugar no paraíso do lado dele. Não foi pra Pedro, nem pra Paulo, nem pra nenhum daqueles caras. Ele era um ladrão condenado, que estava sendo executado. Então, não fica tirando uma dos caras no corredor da morte. Talvez eles saibam de alguma coisa que você não sabe.



No caminho para sua casa em Eagle Point, sem nenhuma expectativa para mais nada na vida, Shadow conhece um senhor dentro do avião, que faz uma estranha proposta de trabalho, sem ao menos dizer sobre o que se trata o novo emprego. Quando perguntado sobre o seu nome, este senhor pede que Shadow lhe chame pelo nome de Wednesday, já que aquele dia era quarta-feira. Shadow desce do avião no próximo aeroporto, que nem mesmo era o seu e desaparece da vista de Wednesday, que o encontra logo depois no banheiro.

Shadow acaba aceitando, sem muitas opções, o tal emprego que a princípio lhe parece ser o de guarda-costas e acaba conhecendo também Mad Sweeney, um leprechaun - mas não um daqueles de tamanho diminuto - que supostamente era o antigo funcionário de Wednesday. Mad Sweeney é muito habilidoso na arte do truque com moedas, uma habilidade que Shadow também compartilha. A diferença é que Sweeney está há anos luz a frente de Shadow, conseguindo fazer com que surjam moedas de todos os cantos e também pegá-las no ar, sem que estivessem ali antes. Na busca por ensinamentos dessa habilidade, Shadow e o leprechaun caem numa briga em que o ex-detento leva a melhor. Sweeney então lhe dá algumas dicas e lhe entrega uma moeda de ouro, que Shadow joga no caixão de sua ex-esposa falecida Laura, no dia do enterro, antes de os coveiros jogarem as pás de terra.

Vidas são flocos de neve, formando figuras que já vimos antes, tão parecidos uns com os outros quanto as ervilhas de uma vagem [...] mas ainda assim únicas.



Durante a leitura do livro, Gaiman vai entregando o pano de fundo de que há uma tempestade chegando, referindo-se à guerra entre deuses antigos e modernos, mas já adianto aos leitores que esperam ação o tempo todo que este livro não é focado em combates entre entidades super poderosas. A mensagem aqui é muito mais crítica sobre uma sociedade americana da época em que foi escrito, onde a chegada da tecnologia deixou as pessoas completamente fascinadas. Toda a gama de deuses apresentadas pelo autor, deixa claro o quanto Gaiman saca de mitos de todo o mundo, trazendo entidades desde a mitologia nórdica, egípcia, africanas e outros. A maioria dos mitos são fáceis de reconhecer, mas alguns deles podem precisar de uma pesquisa, para quem tenha interesse no assunto, e poder ter um entendimento maior de seus propósitos e do seu papel no mundo divino.
É fácil se identificar com o personagem principal da história, seja por suas decisões, seja pelas emoções vividas por ele e como ele afeta a todos com quem convive e como é afetado pelas suas escolhas. Os sonhos tenebrosos de Shadow são de arrepiar. O livro é repleto de diálogos magníficos, como só Neil Gaiman é capaz de criar. Shadow vai vivenciando missões extraordinárias e até muito perigosas na companhia do deus antigo Wednesday (que você descobrirá que deus é durante a leitura) na busca por recrutarem outros deuses do passado para a grande batalha que, no fim das contas, ninguém quer se envolver.



Eu praticamente demorei muito para terminar esta leitura devido ao número grande de páginas (444 na minha edição da editora Conrad) e há certas partes cansativas e lentas. Estas partes pareciam completamente desnecessárias e descartáveis, porém o autor volta para dar um super fechamento de cada uma delas, fazendo você mudar de ideia rapidamente. Acredito que ainda assim, este livro não agrada a todo mundo. Não concordo com algumas críticas negativas que li a respeito e acho que o livro merece sim ser lido não só por todos os fãs do autor, mas também por quem não o conhece. Respeito a todas as opiniões, mas acho que tem uma coisinha ali no livro que quando você pesca, fica mais claro o porque ele é tão ovacionado. Não é só por ser Gaiman. Não esperem um livro estilo Coraline, O Livro do Cemitério, Stardust ou outros livros maravilhosos para jovens leitores, aqui a leitura é adulta, com sexo, violência e palavreado pesado. Gaiman explora aqui todo o seu potencial, isso é fácil de se enxergar e acredito que se você já leu Sandman, pelo menos até o arco Estação das Brumas, vai se amarrar nesse livro.

Nem sempre nos lembramos das coisas que depõem contra nós. Justificamos. Nós a cobrimos com mentiras claras ou com a poeira espessa do esquecimento. Todas as coisas que Shadow havia feito na vida e de que não se orgulhava, todas as coisas que ele preferia ter feito de outro jeito ou deixado por fazer, voltaram a ele em uma tempestade, em um redemoinho de culpa, de arrependimento e de vergonha... Ele não tinha nenhum lugar para se esconder. Ele estava tão nu e tão aberto quanto um cadáver na mesa [...]

Uma série de TV produzida pela TV Starz, baseada no livro está para estrear no dia 30 de Abril de 2017 contendo 8 episódios. A princípio a fidelidade do material está incrível e cabe a nós acompanharmos e tirarmos nossas próprias conclusões. A expectativa é grande!

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