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A GUERRA QUE SALVOU A MINHA VIDA


A perspectiva de pensar que ser amada é algo que dói me parece um tanto quanto estranha. Para Ada, além de dor, receber amor despertou uma ravia que jamais sentira na vida. Nascida com uma deficiência no pé que nunca foi tratada, a menina só conhece o mundo pelo que viu da janela de casa. Nunca pode sair, não pode conversar com os vizinhos, não sabia nem mesmo como usar um banheiro, usava um balde que sua mãe trocava só para que não fosse vista pelos outros quando fosse ao banheiro comunitário. A mãe de Ada tinha tanta vergonha da filha com aquele pé, que nunca na vida a tratou como ser humano. Ela só tinha o irmãozinho, Jamie, para dar e receber amor, fora isso, não tinha mais nada.

Para quem já nasceu vivendo um conflito a cada dia, a segunda grande guerra, que estava se aproximando cada vez mais perto de Londres, se tornou uma irônica salvação para os dois pequenos irmãos. Como crianças evacuadas da cidade, foram parar na casa da Senhorita Smith, que desde o início foi completamente contra receber as crianças porque, segundo ela, nunca quis ter filhos e não saberia o que fazer com elas. Mas não é que para quem não sabia o que fazer foi capaz de dar tudo o que aqueles meninos precisavam?





A Guerra que Salvou a Minha vida é um livro tão tocante e puro que você imediatamente sente a delicadeza que Kimberly B. Bradley teve para costurar os rasgos que a vida deixou na vida dessas três pessoas. Toda a narrativa é apresentada pelo ponto de vista de Ada e é impossível o leitor não despertar em si pelo menos o mínimo que seja de senso de empatia. Ao mesmo tempo é devastador acompanhar toda a dor de Ada, que desconfiava tanto do mundo que era incapaz de receber de bom grado uma gentileza vinda da Srta Smith ou qualquer pessoa daquela nova vila sem que aflorasse todo o ódio que ela recebia da mãe.

A srta Smith é um outro ponto notável. Claro que nessa história observamos quanto que um pouco de carinho e cuidado fazem diferença na qualidade de vida das crianças que jamais sentiram isso na vida, mas o ato de dá-los também transformou a vida daquela mulher que vivia o luto. O livro não fala isso abertamente por não ser um assunto que se discutia na época, mas pequenos trechos e reações indicam que ela vivia uma relação homoafetiva com uma moça chamada Becky, que deixou os bens para ela após sua morte. Seus momentos de sofrida solidão olhando para o nada foram aos poucos sendo substituídos pelo zelo que ela foi adquirindo a cada dia que o convívio com Ada
e Jamie se estendiam. E se você está pensando que a intenção do livro é dizer que é a maternidade que salva a  vida d e uma mulher, apenas pare.



Apesar de ser uma história belíssima (que engoli em 2 dias), me questionei o porque dela entrar no catálogo da Darkside Books. Não é um livro de terror e nem fantasia, nada mais natural me perguntar isso. Porém se olhar toda obscuridade vivida por Ada, que a moça viveu um horror real dentro de sua casa, você acaba entendendo porque esse livro faz parte da coleção #darklove e veria que não há porque não estar nela.


+ FOTOS //










“Este livro foi cedido ao TRIPLO BOOKS de cortesia pela editora. Independente da parceria, todas as reviews tem como principal característica, a franqueza com as opiniões postadas.”



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