A GAROTA DO LAGO, de Charlie Donlea
Becca Eckersley é aquele tipo de garota super atraente que por onde passa chama a atenção masculina, de certa forma propositalmente. A jovem adora ser bajulada e viver rodeada de homens, que diferentemente dela, não são capazes de ver apenas uma amizade na relação. A vida de Becca termina de forma trágica e brutal quando ela é assassinada em Summit Lake, uma pequena cidade entre montanhas, numa casa de férias sobre o lago, durante uma noite em que estudava sozinha para as provas finais.
O assassino nunca foi encontrado e as poucas pistas que foram encontradas pela polícia, de nada serviram para montar um perfil de um suspeito. O fato é que muitas coisas foram ocultadas e a investigação da polícia foi substituída por uma série de detetives supostamente contratados pela família da vítima. O pai de Becca é um advogado bastante influente e poderia, possivelmente, ter escondido fatos do crime que poderiam prejudicar a sua carreira, agora que estava prestes a se candidatar ao cargo de juiz.
Entra em cena a repórter Kelsey Castle, uma mulher em recuperação, que passou recentemente por uma situação complicada e chocante. Ela é enviada a Summit Lake pelo seu chefe, com o intuito de que ela não apenas escreva um artigo sobre o assassinato de Becca, mas também aproveite uns dias de descanso longe de seu escritório até se reestabelecer emocionalmente. Logo em sua chegada à pequena cidade, Kelsey já deixa transparecer um trauma que sente ao se aventurar em uma corrida matinal pelas montanhas e a mata de Summit Lake, dando pequenas dicas de sua atual personalidade e como o que quer que tenha acontecido, influencia em suas ações. Apesar disso, ela não é uma fraca, buscando informações com as pessoas certas para poder criar um artigo convincente e mais próximo da verdade, como ninguém até aquele momento havia criado.
Kelsey conta com a ajuda do delegado da cidade e um médico que teria participado do atendimento de Becca quando deu entrada no pronto socorro antes de morrer. As fofocas na cafeteria da cidade também acabam rendendo umas boas pistas para onde Kelsey deve se embrenhar para poder descobrir quem poderia querer matar uma jovem que, supostamente, não tinha inimigos. É nesta cafeteria que Kelsey conhece Rae, personagem que ganha uma afeição pela repórter e passa a ajudá-la em sua busca pelas pistas.
Becca Eckersley escondia muitos segredos e sua família gostaria de esconder ainda mais. Nós leitores podemos acompanhar em narrativa os tempos de Becca antes de sua trágica morte e intercaladamente, a investigação de Kelsey Castle. A ligação entre as duas, apesar de nunca terem tido contato uma com a outra, é certeiro e impactante.
A Garota do Lago era um livro que não havia me despertado a atenção da primeira vez que o vi nas livrarias. Saturado com livros de nomes semelhantes: “A Garota Disso”, “A Garota Daquilo”, A Garota de lá” “A Garota de cá”, eu via a ideia do livro como mais um autor pegando carona em outras obras semelhantes. Mesmo depois de ler a sinopse, nada tirava da minha cabeça de que esse livro não deveria se passar de mais do mesmo.
Quando as primeiras resenhas sobre ele começaram a surgir, fiquei impressionado com a revelação das pessoas sobre se surpreenderem e muito com a leitura e desfecho. Encontrei inclusive pessoas com o mesmo pensamento que o meu e que acabaram encontrando o contrário. A curiosidade começou a acender dentro de mim me permiti a desejar o livro, o que fez com que no meu aniversário ele se tornasse um de meus presentes. Fiquei muito feliz de tê-lo ganhado e adorei o acabamento e encadernação da editora Faro Editorial, que até então eu não conhecia. Coloquei na minha meta de 2017 a leitura de A Garota do Lago e foi a melhor coisa que eu poderia ter feito. Que livro! Que história! Me senti envolvido na história, caminhando por Summit Lake junto com Kelsey e sua jornada rumo à verdade. Estive estudando junto com Becca e seus amigos e presenciei os segredos que ela manteve por tempo demais. Me sensibilizei com a história de Becca e de Kelsey, me emocionando ainda mais a medida que me aproximava do desfecho. Por mais que iniciemos a leitura sabendo que Becca morreu, conhecer toda a sua trajetória até as últimas páginas nos tornam mais íntimos dela. Sendo assim, o momento de sua morte tem um impacto muito maior quando o livro está acabando. O autor, Charlie Donlea, soube amarrar as pontas de forma surpreendente. O final é totalmente digno e fez com que eu colocasse esse thriller junto com “A Garota Corvo”, entre os melhores do ano.
Estou ansioso para conhecer outras obras do autor e tenho plena certeza de que ele saca muito de mistério e manja da arte de enganar o leitor. Fatos que admiro muito em obras de literatura policial e o que me faz ser tão fascinado por este gênero. Meu único contra vai para a escolha da capa e a tradução do título nacional, que não faz referência com a obra e cria uma expectativa errada do enredo. No original se chama “Summit Lake”, um nome muito mais adequado e cabível na proposta do autor, que nos conta a história desta cidadezinha paradisíaca, abalada por um crime cruel. Leiam esse livro. Mais pessoas precisam tomar conhecimento de tamanha genialidade. Fica a dica.
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