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1977: ENFIELD, DE GUY LYON PLAYFAIR

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Quando fenômenos sobrenaturais passaram a ser cada vez menos levados a sério, devido ao horror e violência causados pelos "vivos" ou até mesmo pela forma com que se é "fácil" manipular imagens e vídeos hoje em dia, surgiram várias pessoas enchendo a boca para dizer "não tenho medo dessas coisas". O que ninguém pode negar é que, ao assistir um filme de terror, tudo muda de figura quando surgem logo nos créditos a mensagem "baseado em fatos reais".

Todo mundo em algum momento de sua vida acaba presenciando algum episódio inexplicável. Algo acontece e você procura fundamentar o ocorrido, porém não encontra formas de fazê-lo. O meu pai me contou que quando jovem, estava mergulhando na praia quando de repente uma onda o puxou para o fundo com tamanha força que ele começou a se afogar. Ele tentava nadar de volta para o raso, porém só se cansava e ia cada vez mais sendo puxado para dentro do mar. Eis que alguém que não estava ali antes, sugeriu que ele nadasse a favor do mar, no caso para a direção de onde ele estava sendo levado. Com esta atitude, ele se desprendeu do redemoinho de água e conseguiu retornar para a areia pegando uma onda. Ao se virar para poder agradecer ao homem que o ajudara, ele não estava em lugar algum.

Eu já pensei estar tendo várias vezes um tipo de pesadelo em que eu acordo em minha cama, me levanto e caminho para fora dele. Quando chego ao próximo cômodo da casa, começo a sentir um terrível mal estar de enfraquecimento, o que me faz gritar por ajuda, porém nenhum som sai de minha boca. Logo depois é como se eu desmaiasse e acordasse em minha cama assustado, acordando de um pesadelo e ofegante. Este mesmo pesadelo se repete de vez em quando, independente de onde eu esteja dormido. Se eu estiver num hotel, é lá que se passa o sonho. Não posso saber se estou tendo uma experiência extracorpórea, mas é a mesma sensação que muitos têm quando acontece aquele pesadelo da queda no abismo infinito, com a diferença de que eu consigo caminhar por um pouco mais de tempo antes de cair dentro dele.




Quem poderia provar que o que meu pai vivenciou é mentira? Quem poderia provar que o que eu vivencio as vezes, não passa de um sonho muito real? Infelizmente vivemos num mundo onde tudo o que acontece de estranho é taxado como doença, viagem na maionese, quando não vem acompanhada das frases, "fulano tem um parafuso a menos", "isso é falta de Deus na sua vida", "que droga você tá usando?".

O Poltergeist de Enfield é mais um desses casos onde a maioria dos envolvidos taxou como mais um caso de fraude, com a imensa diferença de ser o caso mais documentado da história. Alguns documentários feitos na época e que circulam na internet, utilizando de simulações com os envolvidos no caso — para representar as atividades do poltergeist — ajudaram a destruir a crença na veracidade dos fatos. Uma coisa é certa, apenas quem vivenciou o caso pode decidir o que é verdade e o que é mentira.

As pessoas costumam esperar que fenômenos psíquicos ocorram como nos filmes, com ventos uivantes, venezianas tremulando e corujas piando no quintal. Contudo, em minha experiência, eles ocorrem nos cenários mais normais, sem nenhum desses efeitos.



Foi entre os anos de 1977 e 1979 que a família Harper viveu em Enfield na Inglaterra, longos momentos de horror e sofrimento mental e físico diante da presença de um Poltergeist que não os deixavam em paz durante todo este tempo, realizando as atividades registradas pelos membros da Sociedade de Pesquisas Psíquicas Guy Lyon Playfair, escritor deste livro e o inventor Maurice Grosse. Dentre elas foram apontadas batidas, movimentação de objetos pequenos e grandes, ocorrências anormais envolvendo roupas de cama, surgimento de água, aparições, levitação de pessoas, ataques físicos de diversos tipos, automatismo, perturbações psicológicas, mau funcionamento de equipamentos e outras falhas, matéria atravessando matéria, fenômenos vocais não identificáveis, com corpo e sem corpo e combustão espontânea.
Todas as ações do poltergeist eram analisadas com bastante empenho, com os investigadores sempre tentando praticar as atividades para comprovarem se era possível ou não realizar tais tarefas de forma fácil. Por exemplo, quando uma das grades da lareira foi arrancada da parede e foi parar próximo ao travesseiro de um dos filhos da Sra Harper, Guy e Grosse tentaram reproduzir a cena com tremenda dificuldade, constatando que seria impossível que a pequena Janet ou sua irmã Rose tivessem feito tal ato para confundir a todos. Cada situação era analisada primeiramente como uma fraude, para depois serem reconhecidas como práticas genuínas da presença de um poltergeist.


As vozes que saiam de Janet e Rose eram como de uma pessoa idosa e foram captadas pelos gravadores de Guy e Grosse, que ao ouvirem depois as gravações, que chegavam a conter diálogos de até três horas ininterruptas, ficaram espantados e duvidosos de que o timbre cavernoso e forte pudesse sair de duas crianças. Eles perceberam que ao tentarem reproduzir a voz com suas gargantas, a força empregada causava irritação, inchaço e tosses. Ventríloquos foram consultados com o intuito de desmascarar uma possível fraude das meninas e apesar de eles dizerem que tudo não passava de uma brincadeira por parte delas, os investigadores não achavam que fossem capaz de gerar aquele tipo de voz sem tossir ou machucar suas gargantas profundamente, além dos diálogos longos e sem ensaio, com respostas à questões anteriormente não abordadas com nenhuma delas, ou seja, sabiam de coisas que não deveriam saber.

Guy nos conta que as atividades se estenderam à outras pessoas da vizinhança, principalmente para os vizinhos da casa ao lado dos Harper, que moravam em uma casa geminada, tendo seus móveis movimentados por forças invisíveis, desaparecimentos de objetos sem qualquer explicação plausível e até mesmo um livro que foi materializado por Janet, passando de seu quarto para o quarto da casa vizinha.

Um senhor viu pelo lado de fora da casa, Janet levitando em seu quarto no andar de cima, enquanto alguns objetos rodeavam-na em círculos. Ele disse ter plena certeza de que ela não poderia estar apenas pulando em sua cama, pois a altura em que a menina se encontrava não tornava esta possibilidade a possível explicação para este fato.

Se ele e eu tivéssemos descoberto uma nova espécie de barata sob as tábuas do piso, não há dúvidas de que o mundo da ciência teria vindo em peso à nossa porta, entregando-nos cheques vultosos de fundos para pesquisas. Porém , quando aparecemos com indícios da existência de outro mundo fora do alcance dos cinco sentidos que conhecemos, o que aconteceu? Com umas poucas exceções notáveis, as pessoas riram ou simplesmente foram embora.




1977: Enfield é um livro escrito quase que como um relatório, registrando todos os eventos da família Harper e todos os envolvidos com eles, contendo cada mínimo detalhe, mesmo que eles fossem situações repetidas dia a dia, detalhe este que o autor nos alerta já no início da obra.  Confesso que fiquei com receio de não dormir a noite com medo de qualquer estalo que pudesse haver em móveis da minha casa, mas Guy te deixa completamente familiarizado com o caso, sem se comover ou explorar nenhuma das vítimas. A Sra Harper tem uma aura sempre tão serena e é tão receptiva com todos os presentes, que não tem como nós não nos sentirmos mais tranquilos e bem instalados na situação. Surge até uma pontinha de vontade de estudar um pouco mais afundo sobre poltergeists e parapsicologia, de tão interessante que o assunto é.

É claro que trabalhar em um caso tão longo como este não é o que se deseje para ninguém, mas compreender esse tipo de fenômeno paranormal é tão interessante quanto se aprofundar no ramo da tecnologia. Já que, como diria Lovecraft, o maior medo da humanidade é o medo do desconhecido, devemos buscar entender e conhecer os eventos inexplicáveis para podermos lidar com esses casos com menos hesitação, assim como a Sra Harper.


O livro é uma obra impressionante e não tenho dúvidas de que fiz a escolha certa em torná-lo parte de minha estante. Causa calafrios e inquietação, mas também que cria no leitor a curiosidade para entender os eventos que são descritos de forma instrutiva, seduzindo-o a buscar conhecer mais o mundo da paranormalidade e a desafiar seus temores mais profundos. Destaque para mais uma edição digna de aplausos, publicada aqui no Brasil pela DarkSide Books, que sabe lançar um material tão bonito e bem estruturado, com todo o layout digno do tema abordado. Adorei os brindes que vieram: um terço e um vidrinho de água benta!

Há uma série dividida em três episódios chamada The Enfield Hauting, baseada nos eventos do poltergeist de Enfield, assim como o filme Invocação do Mal 2, que não adapta de forma autêntica os acontecimentos encontrados neste livro, mas vale a pena dar uma chance.
  

“Este livro foi cedido ao TRIPLO BOOKS de cortesia pela editora. Independente da parceria, todas as reviews tem como principal característica, a franqueza com as opiniões postadas.”


TRIPLO BOOKS

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Um comentário

  1. Sou um pessoa medrosa pra coisas de terror e derivados, apesar de ter uma quedinha pelo lado obscuro e desconhecido, fiquei com bastante vontade de ler apesar do meu medinho... sabe como é né a curiosidade vem na frente, e eu adorei a edição da Darkside. A review ficou muito boa e instigante, nos faz querer ler o livro com toda certeza.

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