S. - "O NAVIO DE TESEU"
Jen encontra na biblioteca da universidade onde trabalha, um livro deixado acidentalmente na prateleira por um ex-estudante de literatura de pós-graduação da Universidade Estadual de Pollard, que passou toda a sua vida estudando o autor V. M. Straka. O livro chama-se O Navio de Teseu, do escritor V. M. Straka e conta a história de um estranho homem que não se lembra de onde veio e nem de quem é. Depois de caminhar por uma cidade desconhecida e conhecer uma mulher misteriosa em uma taberna, ele acaba sendo levado por um homem para o interior de um navio sem nome. Sua viagem neste navio é só o começo de uma jornada totalmente bizarra, onde ele é forçado a realizar missões perigosas que podem acabar com sua vida.
Jen lê parte do livro e escreve notas de análise sobre a obra, deixando em seguida mensagens para Eric nas bordas das páginas. Quando ele pega a obra de volta, fica intrigado com as visões de Jen sobre o romance, então, responde as notas dela e deixa o livro propositalmente mais uma vez na biblioteca para incentivá-la a compartilhar seu ponto de vista, começando assim, a trocar opiniões e debates sobre O Navio de Teseu e sobre seu enigmático escritor.
A experiência que nós leitores temos com este livro, é a mesma que os dois protagonistas tem. É como se tivéssemos encontrado este exemplar perdido em uma biblioteca, podendo ler todas as anotações deixadas por Jen e Eric, além de vários anexos no interior dele, como recortes de jornais, cartões postais, cartas, entre outros. Nas bordas encontramos várias anotações sobre a análise deles sobre o autor V.M. Straka e também sobre seu tradutor F. X. Caldeira, como também histórias sobre suas vidas pessoais. Logo vamos percebendo que as vidas dos dois começam a se entrelaçar com a história das páginas do livro, onde têm muito em comum. Um dos exemplos de interação com o livro que posso citar é quando um dos personagens quer contar algo que não cabe nas margens, você pode encontrar uma carta na próxima página, anexada para você abrir e ler.
V. M. Straka é um escritor totalmente misterioso que jamais foi visto e fez muitos inimigos durante suas escritas radicais. A identidade de Straka é desconhecida. Vários estudiosos sobre sua vida, funcionários do governo e organizações prós e contras nunca chegaram a um parecer de quem ele realmente é. Muitos até pensam que V. M. Straka não passa de um pseudônimo usado por outros escritores a fim de expressarem suas reais opiniões. Alguns até acreditam que ele seja uma organização, e não apenas uma pessoa, determinados a derrubarem o governo. Toda a sua vida está em volta de mistério. Straka foi acusado de vários crimes, como espionagem, assassinato, além escrever romances polêmicos.
Assim como ele, seu tradutor, F. X. Caldeira, também é uma figura misteriosa e enigmática. Caldeira diz nunca ter conhecido Straka, tendo se correspondido com ele através de cartas.
S. é uma daquelas obras que eu chamaria de quebra cabeça literário, onde o leitor interage e busca entender todo o mistério da trama junto com Jen e Eric. É impossível você não anotar vários nomes e procurar códigos escondidos por dentro do livro e seus anexos. Cada pista e revelação te deixa mais intrigado, despertando vários sentimentos e até medo e apreensão. O romance parece de verdade com um exemplar velho de biblioteca, feito com uma capa que lembra os antigos livros com capa de tecido. Seu interior é de páginas amareladas e gastas pelo tempo, com cheiro de mofado. As escritas a caneta são super fiéis a manuscritos de verdade, sendo o Brasil o único país que até então, trabalhou com tradução para manuscrito de verdade. Em outros países os textos foram feitos no computador com fontes que lembravam escritas a mão. O designer da Editora Intrínseca, Antônio Rhoden testou canetas que pareciam com as originais e desenvolveu a escrita idêntica ao original em inglês. O acabamento do livro é tão complexo que teve que ser impresso na China, pois não havia gráficas no Brasil que poderiam produzir o material.
Não há uma regra para se ler S., pois ele conta praticamente 3 histórias: a do navio, a de Jen e Eric e também da pesquisa e mistério envolvendo Straka. Porém, tem pessoas que lêem todo o Navio de Teseu e depois as margens e anexos. Outros lêem intercaladamente as anotações e o livro. Eu optei por ler o navio e depois de finalizar um capítulo, voltar e ler as bordas que tinham referência a ele. Depois de alguns capítulos eu não consegui manter esse ritmo devido a curiosidade, então, comecei a ler livro -> anotações, anotações -> livro de cada página. Não satisfeito, J. J. Abrams e Doug Dorst, colocaram a conversa de Jen e Eric em períodos distintos, você nota essa diferença pelas cores de canetas usadas por eles. Alguns assuntos conversados, só tem conclusão mais a frente. Enfim, cabe a cada um definir qual método utilizar. Garanto que cada experiência será diferente.
Eu achei esse um dos livros mais incríveis que já li na vida. Amo mistérios, enigmas e quebra-cabeças, toda a aura e a beleza e riqueza de detalhes me deixaram maravilhado. Valeu cada centavo investido nele. S é uma obra de arte que todos os amantes de literatura necessitam ter em suas estantes. É uma homenagem ao ato de ler. Recomendo e recomendo muito.
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